domingo, 31 de outubro de 2010

TABUA DE ESMERALDA

Jorge Ben e a sua Tábua de Esmeralda

O texto abaixo foi escrito em 1974 por Aramis Millarch para o jornal Estado do Paraná. Vejam que maravliha:


Disco - Jorge Ben e a sua Tábua de Esmeralda
Poucos são os artistas que conseguiram não se filiar a nenhuma corrente na música popular e deixar que as correntes da MPB se filiassem a eles. A opinião é do crítico Roberto Moura e mostra de uma forma simples toda a dimensão e integridade que Jorge Ben conseguiu no seu trabalho. O autor de CHOVE CHUVA e MAS QUE NADA evoluiu como poucos e conseguiu manter as mesmas bases, o mesmo "feeling" do início de carreira. Com seu ritmo bem brasileiro, as letras simples, um jeito de cantar que misturava o alegre e o triste, ele observou o que se fazia no Brasil e no Exterior, dedicando músicas tanto a Caetano Veloso (MANO CAETANO), como ao cantor de blues americano TAJ MAHAL. O seu trabalho motivou verdadeiras homenagens que partiram de Gilberto Gil, Caetano Veloso e agora Chico Buarque de Holanda (JORGE MARAVILHA), mostrando que Jorge é acessível e admirado por diversos tipos de público.

Depois da coletânea DEZ ANOS DEPOIS, Jorge iniciou uma nova fase que ele chama de alquimia musical. Considerando-se um novo adepto da alquimia, ele diz o que norteou a criação no seu último LP A TÁBUA DE ESMERALDA: "A maioria das músicas são alquímicas, mas sempre pela filosofia musical. Eu pretendo que a minha música traga paz de espírito e tranqüilidade para quem a escuta". O ritmo continua sendo aquele já conhecido de todos nós, só que com algumas alterações nas divisões para acompanhar as extensas letras retiradas de grandes textos alquímicos. Os arranjos tem efeitos espaciais complementando o clima cósmico de muitas das músicas, especialmente em ERRARE HUMANUM EST, onde, segundo Jorge, "procuro mostrar se eram os deuses astronautas ou não. É quase uma mecânica celeste". Toda a apresentação gráfica do disco acompanha os motivos principais das músicas, e foi nas figuras que Nicolas Flamel encontrou em um livro da Abrahão que foi baseada na capa do LP. Esta nova face do trabalho de Jorge Ben remete às coisas celestes, mas não esquece as coisas simples. Em EU VOU TORCER fala da paz, da alegria, do amor, do inverno, do verão, da agricultura celeste e do maior teólogo cristão, no entender de Jorge: Santo Thomas de Aquino. "Parto das coisas mais sérias até às mais simples, como o meu time de futebol, porque todas elas tem muita importância e motivo de existirem", complementa Jorge. Uma estranha parceria se estabelece na faixa HERMES TRISMEGISTO E SUA CELESTE TÁBUA DE ESMERALDA, Jorge Ben e o faraó egípcio Hermes Trismegisto, que teve os seus textos traduzidos pelo alquimista contemporâneo FULCANELLI. Hermes era chamado de "TRÊS VEZES O GRANDE" e seus escritos foram encontrados pelos soldados de Alexandre da Macedônia na Pirâmide de Gize, grifados com uma ponta de diamante numa lâmina de esmeralda. Várias traduções foram feitas sobre este tratado, e a de FULCANELLI foi considerada a melhor delas, e entre os vários idiomas em que pode ser encontrado o texto, está o português arcaico, que é a utilizada por Jorge Ben. Aliás, ele procurou fazer poucas variações para não tirar a beleza do texto, e conclui: "Tenho muito respeito e admiração pelo trabalho de um alquimista, pois ele dedica toda a sua vida a estudar e procurar com uma fé e perseverança não comparável a coisa alguma. Desde o LP BEN ROSAS ERAM TODAS AMARELAS já há o reflexo do estudo e da tentativa de aplicar tudo isto à minha música. Pessoalmente houve uma grande mudança em minha vida e eu me sinto profundamente satisfeito comigo mesmo. Os textos alquímicos são complicadíssimos, mas eu os vou interpretando de acordo com a minha compreensão, sentimento e bem estar".

Na faixa O HOMEM DA GRAVATA FLORIDA, Jorge homenageia Paracelso, um grande alquimista, e em ESTÃO CHEGANDO OS ALQUIMISTAS, a dedicatória é para todos os filósofos herméticos. O trabalho vai continuar e outras músicas já estão sendo preparadas para receber textos alquímicos, e entre eles há uma oração de Nicolas Flamel onde ele pede a Deus para não perder a fé e a força na sua vida de pesquisas. Mas isso fica para outro disco onde Jorge Ben explorará mais o caminho aberto pelos alquimistas na sua vida.


Fonte: Tablóide Digital

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