Nelson Triunfo em momento triunfante na platéia de James Brown em 1978. Foto de Penna Prearo
Do purgatório Pernambuco ao duro Triunfo em São Paulo… Inicio dos anos 70. Cidade de Triunfo, Pernambuco…
A vida do jovem Nelson Gonçalves Campos Filho, sempre foi de muito trabalho árduo no campo como agricultor. Nos tempos vagos, este adolescente corria para a cidade a fim de se envolver com a cultura local e com todas as novidades da época, o que acabou resultando no despertar de sua vocação como dançarino do bloco “Cambina Maracatu”, transformando-o posteriormente em um profundo conhecedor dos ritmos do maracatu e do frevo. Mas não foi apenas para a conversão à cultura local que suas idas ao centro lhe proporcionaram. Este jovem franzino conheceu o “Soul” dos afro-americanos se contagiou com a nova proposta. A necessidade de valorização social o levou a migrar para a cidade de Paulo Afonso (BA), com apenas 15 anos de idade, em busca de oportunidades. Lá, Nelson prosseguiu com os estudos e passou a trabalhar como auxiliar de topógrafo na Usina de Paulo Afonso. Tornou-se inevitável o seu envolvimento com as festas black da cidade, inclusive, ele é considerado o primeiro nordestino a interpretar os movimentos de James Brown e a formar um grupo de dança, “Os Invertebrados”…
1974. Brasília…
Chegando a capital do Brasil, o jovem Nelson concluiu o ensino médio e tornou-se topógrafo, mas sem descolar a atenção das festas, tornando-se um especialista na organização destes eventos. Morou em Ceilândia (considerada na época a maior favela do mundo), em Sobradinho e em outras localidades. Sua popularidade cresceu ainda mais quando passou a se apresentar nos eventos da equipe “Super Som 2000”, onde pôde percorrer por todo o Distrito Federal arrebatando multidões com a sua dança. Sua dedicação ao Soul o levou a organizar caravanas para conhecer os bailes do Rio de Janeiro, na época a Meca da Cultura Black Nacional. Lá foi apelidado por Toni Tornardo de “O Homem Árvore”, devido a sua altura e tamanho de cabelo.
1976. São Paulo…
Formado no ensino médio, Nelson segue rumo a Terra da Garoa, com o ímpeto de viver da black music. Morando inicialmente na casa de um irmão que já estabelecido algum tempo na cidade, o soulman iniciou seu intercâmbio junto aos redutos black, o que contribuiu para a formação do grupo “Funk & Cia”.
Nasce então o soulman Nelson Triunfo para o estado de São Paulo! Cabe ressaltar que o Funk & Cia se tornou um articulador poderoso na pacificação entre adeptos que não se entendiam por conta das rivalidades territoriais, percorrendo por todos os bairros do estado, demonstrando que todos eram iguais e precisavam se unir.
Sua ousadia o declarou um embaixador do soul paulistano em novos intercâmbios no Rio, em prol do crescimento dos bailes blacks de São Paulo. Em 1983, o programa de auditório do apresentador “Silvio Santos”, exibido na extinta TVS, promoveu concursos para divulgar uma “nova dança”, vinda dos guetos americanos conhecida como break dance.
Nelsão, como também é conhecido, mesmo não conhecendo totalmente os movimentos dos b.boys, aceitou o desafio e compareceu na emissora.
A partir daí, o “Funk & Cia”, passou a levar a break dance as ruas e montou sua base em frente ao Teatro Municipal, tornando-se agora o principal embaixador da Cultura de Rua denominada de Hip-hop, para todo o Brasil.
Devido à má acomodação e a incompreensão da Polícia, eles se mudaram para as esquinas das ruas Dom José de Barros com a 24 de Maio (Centro – SP). Sua insistência atraiu pouco a pouco uma grande gama de adeptos do estilo, até que acabou chamando também a atenção (e a intenção), dos comerciantes de discos e artigos da cultura black, da Rua 24 de Maio e das Grandes Galerias do centro da cidade, que passaram a apoiá-los.
“Em 83, surgiu em São Paulo, a ‘Discoteca Fantasy’. Os DJs traziam novidades do exterior – faziam uns scratches. Lá, nós começamos a nos encontrar e a desenvolver o ‘break’. Aí, tive a idéia de trazer o movimento para a rua – como era feito no Bronx, começou na 24 de Maio… A gente tinha problemas com a polícia… Quando fazíamos o ‘moonwalker’ (movimento de andar para trás popularizado por Michael Jackson), o pessoal pedia para levantarmos o pé para ver se tinha rodinha… Era um tipo de mágica, o jogo da cabeça, o movimento do corpo, era como se não tivéssemos ossos! Chamavam a gente de invertebrados.
Muitos de nossos movimentos foram extraídos da capoeira e também da dança afro-brasileira”, relembra emocionado Nelson Triunfo em entrevista a revista Sport Wear. Em meados dos anos 80 Nelsão, uniu sua experiência de militância no Movimento Negro, com a sua arte de dança e passou a ministrar também oficinas de dança em parceria com os projetos sociais promovidos pelo governo da ex-Prefeita Luiza Erundina (PT) na cidade de São Paulo, dentre estes o “RapEnsando a Educação”, com itinerância por todas as escolas do município. Mas sua benéfica ousadia estava apenas começando: em 84, ele surpreendeu o público sambando em plena avenida uma mistura de passos que variavam entre o samba, o soul, o funk e o break, garantindo o Estandarte de Ouro, como melhor passista do samba paulistano, pelo GRES Vai Vai.
O acontecimento culminou no convite da gravação da vinheta de abertura da novela Partido Alto (Rede Globo), além de algumas intervenções do Funk & Cia em alguns capítulos, colaborando ainda mais para a difusão do hip-hop por todo o país. Nos anos 90 foi convidado a integrar ao projeto da Casa do Hip-hop de Diadema, apoiada pela Prefeitura Municipal de Diadema, em prol do resgate de jovens em situação de risco, realizando atividades sócio-educativas estimuladas pelos elementos do hip-hop, onde permanece ativo até hoje.
O currículo artístico de Nelson Triunfo se estende a participações inusitadas ao lado de personalidades com Tony Tornado, Gerson King Combo, Paula Lima, Sandra de Sá, Leci Brandão, Tim Maia, Gilberto Gil e Jimmy Cliff provando para juventude sem perspectivas que existe alternativas mais positivas de crescimento na sociedade através de um movimento como o hip-hop, sem a necessidade de buscar falsas ilusões no crime e nas drogas…
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