quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Sarah Jane Morris Me and Mrs Jones Bossa Version

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Claude Bernie E Don Edward The Lady Is A Tramp



Marvin Gaye - Lets get it on



Maceo Parker plays Marvin Gaye "Let's Get It On"



Didn't know love was so good - Isaac Hayes



Brass Construction - The Message (Inspiration)



LINDA CLIFFORD - PLEASE DARLING, DON´T SAY GOODBYE



Betty Wright - Tonight Is The Night




WITCH HAZEL BOSSA NOVA




Lahaina Luna - ( Dan Fogelberg & Tim Weisberg )



Batuk-Bossa Menina




Billy Larkin and The Delegates - Pigmy part 1 and 2 - Aura records 1965




















segunda-feira, 25 de julho de 2011

O momento magico de Jorge Ben

27 de maio de 1970
O momento mágico



"Depois que o primeiro homem, maravilhosamente, pisou na Lua / eu me senti com direitos com princípios / e dignidade de me libertar..."
Jorge Ben, em "Take it Easy My Brother Charlie" (Tenha calma meu irmão Charlie).
Em 1963 com "Mas que Nada", sua primeira gravação, um negro alto, fino, nervoso, fechado, meio sem jeito, fizera um vôo tão magnífico quanto rápido pelo agitado céu da música brasileira. A canção vendeu 100.000 cópias e foi para a boca de todos. "Sai da minha frente que eu quero passar", ele dizia. E passou. Como um meteoro.
Agora, depois que o primeiro homem, "maravilhosamente, pisou na Lua", Jorge Ben voa de novo e nunca esteve tão brilhante, tão alto, tão livre. "Por isso, sem preconceito eu canto, eu canto a fé, eu canto a sugestão, eu canto a paz, eu canto, na madrugada, take it easy my brother Charlie." Em sua viagem mágica pelas alturas, ele canta o amor, sua amada, "esperada, desejada": "cadê Teresa, aonde anda minha Teresa". E na canção que os críticos cariocas julgaram a melhor do ano passado "ela vem toda de branco, toda molhada e despenteada, que maravilha, que coisa linda que é o meu amor". Nas suas letras não estão os temas de seus trinta anos, mas as palavras de sua eterna infância: "ela é minha menina / eu sou o menino dela". E se os tempos são duros, mesmo para os cantores, em sua simplicidade ele não se preocupa. "Take it easy meu irmão de cor", calma "Charles, anjo 45, defensor dos fracos e dos oprimidos, rei da malandragem", calma, pois eu "moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza".
Suas palavras parecem saídas de um mundo encantado, colorido. Mas saem belas o fortes. Seu impulso vem de um som que pulsa como os gritos que marcam o ritmo das danças selvagens, negras e agressivas. Vem do violão que bate como a escola de samba subindo o morro de volta para casa, depois do desfile, já nostálgica mas sempre animada: chacatum, chacatum, chacatum. O dois-quatro da batida do baião, do chá-chá-chá ou do iê-iê-íê, mas com pautas prolongadas para dar a cadência certa do samba: chacatum, chacatum, chacatuncuntuncuntum chacatum, chacatum. Tocando com os três amigos do Trio Mocotó, que o acompanham há cerca de um ano e estão com ele na Europa, no momento, o som de Jorge Ben é a imagem da alegria. No pandeiro, Nereu Gargalo, 25 anos, nascido Nereu de São José, em Gargalo por código dos amigos para sua prodigiosa força sexual: "Nereu faz aquele som que eu falo de gafieira.. tuc tic tuc tic tuc tic". No zabumba, Joãozinho da Paraíba, dezenove, nascido João Carlos Fagundes Gomes, mas "da Paraíba" porque sseu pai é dono da fábrica dos cobertores famosos: "Ele faz um ritmo todo quebrado, meio baião... Mistura tudo e dá certinho". Na cuíca, o Fritz Escovão, 27, nascido Luiz Carlos de Souza, e "Escovão" por causa de um dúbio significado erótico da palavra escova na gíria da malandragem: "Fritz faz o ritmo mesmo daquela cuíca da Escola de Samba... quiii cum cum cum quiii cum cuni cum", diz Jorge Ben. "E tudo isto aí dá certinho. Como, eu não sei explicar. Isso a gente vê na hora, pô. Se não deste certo eu não tava fazendo, mas tá dando... então sai um ritmo gostoso." Justamente.
BABULINA, BABULINA - Em 1963 a música brasileira estava sendo arrastada pela bossa nova, um turbilhão de melodias sofisticadas e apoiadas no jazz. Seu centro de difusão era o Beco das Garrafas, no Rio, nome de um conjunto de boates do Copacabana, famosas por abrigar em seus uísques Sérgio Mendes, Luís Eça, Ronaldo Bôscoli e outros papas do movimento. Jorge Ben iria iniciar sua carreira exatamente no centro desse turbilhão. Nessa época já havia composto "Mas que Nada" e "Por Causa de Você, Menina", que costumava tocar no violão para o grupo de amigos da Rua Paula Freitas, em Copacabana, onde morava. Não acreditava que dia elas pudessem levá-lo ao sucesso. Mas seus amigos viam melhor o futuro: "Pô, mas que música", diziam. Um dia Jorge aceitou o convite de Manuel Gusmão, amigo de peladas de praia e contrabaixo do Copa Trio, para tocar com ele na alta madrugada da boate Bottle's.
Aceitando o desafio ele aparentemente cumpria apenas uma antiga vocação. A rigor, sua caminhada para a música já começara aos treze anos, quando tocava o pandeiro ganho de presente do pai, Augusto Menezes, estivador, folião e compositor do bloco Cometas do Bispo, do bairro do Rio Comprido, Rio Zona Norte, onde Jorge nasceu (1940). Mais tarde, garoto de ginásio, recebeu de um amigo que foi aos EUA uma camisa com o letreiro "Bop a Lena", título do rock do cantor Ronnie Self, um dos sucessos da época. Entusiasmado, Jorge passou a cantar "Bop a Lena" em festinhas. Mas a pronúncia pouco ortodoxa de seus amigos acabou transformando esse sucesso juvenil no apelido que ele tem até hoje: Babulina.
Com este pasmado não exatamente brilhante, mais as lembranças de um aprendizado autodidático de violão, Babulina Ben começou sua carreira no beco das figuras mitológicas da bossa nova.
MENINA COMPORTADA - A bossa nova era aquela menina-moça caaalma, caalma. Letras de amor, sorriso, flor, barquinhos navegando em águas tranqüiiilas, tranqüiiilas. "Mais que Nada" era nervosa e forte e chegou como um redemoinho. Logo estava no hit parade. Sons estranhos, cantados em falsete pelo negro desconhecido e de nome ainda mais estranho, passaram a ser ouvidos então com insistência, a partir de junho de 1963: "Saiupá, saiupá, saiupá, saiupapa / Ôoooo ariá laiôm, obá, obá, obá / Mas que nada / sai da minha frente que eu quero passar". Um samba diferente pedia passagem. Jorge Ben chamava ainda mais a atenção pela maneira intimista e quase infantil de pronunciar as palavras, detendo-se numas sílabas, alongando outras, sempre dentro da marcação provocante: "Voxê passa o não me ooolha / mas eu olho pra voxêe / voxê não me diz nada, mas eu digo pra voxê". Da mistura do nagô com o português vinha uma letra simples mas fértil que engrossava o comprometido com a frágil e delicada bossa nova. Em "Chove Chuva", outro de seus sucessos na época, os santos nagôs "sacudin, sacunden", uniam-se para uma saudação à deusa do amor, "agoiê-obá", e a celebração da festa de dois guerreiros famosos "dombin e dombém": "sacudin, sacunden, imborocongá / dombin, dombém, agoiê-obá".
Em pouco tempo Jorge tornou-se uma figura conhecida, nacionalmente. Em 1965 o Ministério das Relações Exteríores o convidava para uma excursão aos EUA, com um grupo da bossa nova onde estava entre outros Sérgio Mendes.
Os lucros imediatos da viagem foram mais de coisas de espírito. Jorge viu João Gilberto, seu grande ídolo: "Numa casa noturna consegui ouvir 'O homem' e tocar para ele. A única coisa que ele disse durante a noite toda foi 'muito bom'. Tivemos uma conversa mental".
A QUEDA - De volta ao Brasil, encontrou um público bem menos sensível a seus refrões singelos. Praticamente os mesmos que haviam aplaudido a delicadeza da bossa nova estavam então entusiasmados por palavras bem menos líricas. Ouviam agora os festivos protestos de Bethânia e Vandré, Elis Regina, Nara Leão, João do Vale e Zé Keti. Jorge estava entre os extremos. Se sua música sempre ficou distante do quase pieguismo da bossa nova, desta vez estava longe também dos brados quase revolucionários dos novos ídolos. Em muitos aspectos, Jorge Ben era realmente um marginal de todos esses movimentos. Era o negro vindo da Zona Norte, filho do morro que não fazia o samba da Escola. E nem o iê-iê-iê ou o bolero, a outra saída para o artista das classes pobres que não tem a formação dos intelectuais da classe média. Durante algum tempo conseguiu um difícil equilíbrio entre essas duas correntes, ambas no apogeu (do lado o protesto era o tempo dos maiores festivais; do lado do iê-iê-iê era a época do auge do programa "Jovem Guarda". Roberto Carlos acabara de lançar sua meta: "Quero que Vá Tudo para o Inferno"). Um dia, o equilíbrio tornou-se impossível. Jorge deveria cantar numa segunda-feira em "O Fino da Bossa", programa de Eiis Regina e Jair Rodrigues. No domingo aceitou um convite de seu amigo Roberto Carlos para paricipar do "Jovem Guarda". Isso e mais o fato de ter composto o rock "A História do Homem que Matou o Homem que Matou o Homem Mau" (paródia ao sucesso "A História de um Homem Mau", de Roberto Carlos) decretaram sua "morte" para o grupo dos "contestadores". No dia seguinte, seu nome tinha sido cortado da lista dos escalados para "O Fino". Sem alternativa, ele agregou-se à horda dos "cabeludos", naquela época representantes dos conformistas.
A convivência de Jorge Ben com a jovem guarda não foi longa nem profícua. O íê-iê-iê simplório enquadrava o seu ritmo aberto com certa dificuldade. "Toca em baião que dá certo", Jorge costumava explicar para os cabeludos que o acompanhavam. O resultado era próximo de seu antigo som no Beco das Garrafas. Mas apenas próximo, não mais que um som precário de quem precisava mostrar, pelo menos, que ainda continuava existindo. Durante três anos, de 1965 a 1968, Jorge Ben manteve esse vôo baixo, cujo único impulso era o enorme sucesso que "Mas que Nada" e "Chove Chuva" faziam no exterior nas gravações de Sérgio Mendes. No Brasil, ele era um nome apagado.
A LIBERDADE - Em 1968, os tempos estavam maduros para um novo movimento. E Jorge Ben, desta vez, iria ter e aproveitar sua grande chance. Guilherme Araújo, empresário de Caetano Veloso e Gilberto Gil, o convidou para aliar-se aos tropicalistas, que iniciavam uma grande arrancada. Para quem estivera dentro da bossa nova e no iê-iê-iê, e sempre só, esta não era uma tarefa difícil. Em muitas de suas melhores canções já estavam a ironia e a liberdade freneticamente procuradas por Gil e Caetano. O que é mais tropical do que a banana? Isso ele tinha: "Olha a ba-na-na / olha o ba-na-neiro / olha a banana nanica / olha a banana maçãã". O que era mais tropícalista que o Chacrinha? Isso ele já cantava: "Salve o Chacrinha / Salve o Dr. Barnard / Salve até as sogras e salve-se quem puder". No conteúdo e na forma ele fez poucas concessões aos novos cabeludos, agora contestadores e muito mais irrequietos que os antigos conformistas de Roberto Carlos. Guilherme Araújo queria que ele usasse camisolões orientais como Gil e Caetano. Mas ele recusou. Apenas umas poucas vezes, acanhado, aceitou erguer o braço esquerdo para mostrar ao público o punho cerrado na saudação simbólica do poder negro. A militância política decididamente não era uma lição que estivesse disposto a aprender. Com o braço erguido como um Stokelev Carmichael ele cantou num festival de 1968 a letra de uma canção que bem poderia ter sido escrita por um Simonal: "Queremos guerra / mas só se for para brigar com minha sogra / que ainda não sei / Por que não gosta de mim" ("Queremos Guerra", música desclassificada). Mas algumas poucas coisas ele acabaria aceitando dos baianos inovadores. Com Gil, no programa "Divino Maravilhoso", ele aprendeu o hábito do improviso. Seu samba, embora ainda basicamente o mesmo, ficou mais elaborado e criativo. Suas mãos se libertaram da antiga timidez para tirarem sons de tambor do corpo do violão, ou para se contorcerem sensualmente como na sua atual interpretação de "Domingas".
O sucesso de agora o encontra mais aberto para recebê-lo. Ele conseguirá segurá-lo por mais tempo, ou é seu destino ser como os cometas, fulgurantes e rápidos? No fundo, Ele parece não estar muito preocupado com a glória eterna. Embora o seu talento tenha chegado à idade da razão, suas idéias continuam circulando em torno da adolescência e da infância. No seu pequeno apartamento em São Paulo, pilhas de gibis mostram qual é um dos seus passatempos favoritos. Os heróis dos quadrinhos não raramente representam para ele ideais de justiça social. Ao mesmo tempo, sua agenda atual é uma das mais intensas entre os cantores brasileiros e seguramente a mais disputada. Nesta semana, ele cantará em Roma, Milão, Rio e Curitiba. O último de seus seis LPs vendeu cerca de 50.000 exemplares no Brasil. Nos EUA, "Mas que Nada" vendeu 1 milhão de cópias. Jorge, agora, cobra Cr$ 4.000 por show com o Trio Mocotó, para cantar por volta de uma dúzia das cem músicas de que se lembra ter composto. Mesmo assim não é exatamente um profissional. Em São Paulo, fazendo um show numa boate, duas semanas atrás, ele preferia cantar de graça e com mais afinco numa boate menor, onde seus amigos o esperavam religiosamente todas as noites depois do espetáculo pago. Aparentemente desinteressado de promoção pela imprensa, marcando encontros aos quais quase sempre não comparece, contando histórias de sua vida pessoal sem fazer muita distinção entre a realidade e a fantasia, dá a impressão de ser uma magnífica figura de seus próprios quadrinhos. E está na sua:
"Olha pessoal, estamos aqui fazendo este show porque a gente gosta de tocar e de tirar um sarro. Mas o som da boate está um lixo. E é todo dia assim. Um dia sim, outro dia não, está certo. Mas todos os dias não dá."
O público ri. Nereu solta uma risada, Jorge aproveita a deixa.
"De que você está rindo, Gargalo?"
Nereu ri ainda mais. O público não entende por que Nereu ri tanto. O trio começa a rir também. Jorge avisa: "Olha aí pessoal, olha a seriedade". Na cuíca, Fritz Escovão; no pandeiro, Nereu Gargalo. Nereu ri. "Ih, rapaz, assim não" Jorge olha para trás como se estivesse censurando Nereu. Mas Fritz começa a rir também. "E, no zabumba, Joãozinho Paraíba, ex-invicto." Nereu, então, encosta-se na mesa, apóia-se no ombro de Fritz e não consegue parar de rir. Joãozinho ri também, meio sem graça. "Que é que é meu filho? Todo mundo já passou por isso." O público acha graça, Jorge começa os acordes de "Salve-se Quem Puder":
"Minas Gerais, uai, uai /São Paulo, sai da frente / Guanabara, como é que é / Este é o meu Brasil / Futuro e progresso do ano 2000 / quem não gostar e for do contra que vá prá (...)"
A última frase é feita na cuíca. O público vibra.
Sua mulher, seu herói,suas musas, suas cores
Terminado o show, Jorge vai jantar. Continua reclamando do som. Muda de roupa no camarim. Tira o colete, a gravata, põe uma camisa de malha vermelha e uma calça cinza-claro justíssima Uma jovem loura vestida de preto aparece no camarim. Rapidaménte, éles saem abraçados e vão jantar. Ficam num canto da mesa esperando o Trio Mocotó e o empresário de Jorge, Roberto Colossi, chegarem. Jorge quase não fala. A loura é Teresa. Nunca foi fotografada pela imprensa brasileira. Ela é a Teresa do Jorge Ben, que "É Flamengo e tem uma nêga chamada Teresa". "País Tropical" nasceu quando Jorge telefonou para ela logo após uma vitória do Flamengo na Taça Guanabara de 1968: "Sabe, estou contente de ser Flamengo e ter uma nêga chamada Teresa". De volta para São Paulo, no avião, a frase começou a virar música. Teresa reaparece em várias canções: "Teresa minha amada, minha musa, gosto muito de você / sou um malandro enfeitiçado, enciumado, que espera por você". Musa é uma palavra já quase fora de moda. Mas esta moça esguia e bonita, 24 anos, esquiva e preocupada, é uma musa. Ela e Jorge Ben têm casamento planejado para o ano que vem, com Os Originais do Samba, um dos conjuntos que acompanharam Jorge até recentementeo, e o Trio Mocotó tocando "Que Maravilha".
Quando Jorge Ben aparece na rua da casa de Teresa Inaimo com seu Kharmann-Ghia gelo batizado de "Thor", um de seus heróis de quadrinhos, a garotada dos vizinhos faz uma corrente humana cortando sua passagem. E se o cantor engrena a ré e ameaça fugir, outra turma de meninos o cerca por trás. E então ele se rende, abraça a meninada, distribui autógrafos. Os moradores aparecem nas janelas, as empregadas e mocinhas correm atrás do ídolo.
Se você quer ver Jorge Ben irritado pergunte por Teresa, tente fotografá-la. "É perder a amizade do Jorge. Ela é o patrimônio que ele tem", diz Carlos Alberto França, vinte anos, secretário e escudeiro de Jorge Ben. Do resto, quando se consegue que Jorge Ben chegue ao local marcado para uma entrevista, ele fala de tudo. Durante duas horas, na semana passada, pouco antes de seu embarque para a Europa, o editor de Música de VEJA, Tárik de Souza, conversou com Jorge sobre seu som e sua inspiração, das músicas que compôs para suas várias amigas e de sua visão do mundo.
Prefiro cantar as minhas músicas, porque faço para mim mesmo e sempre é uma história, nunca são músicas assim fictícias, são sempre um troço que acontece(...). A música "Tuaregue" eu fiz porque sempre fui vidrado nesse negócio de Oriente e li uma vez a história dos tuaregues, os cavaleiros azul-marinho do deserto. Eles vivem até hoje, em pleno século XX, como se vivia há 6.000 anos. Eles vivem de sal, salinas. Os homens usam véu e as mulheres usam a cara limpa. Então eu comecei a rabiscar um pouquinho, saber um pouquinho como é que é esse negócio de tuaregue. Eu tinha visto uma figura de tuaregue, achei uma figura bacana, com aquela roupa azul-marinho, montado num cavalo. E aquele pôr de sol brilhando e ele em cima do cavalo preto, todo dourado, bacana, e de azul-marinho... e com um sabre na mão e um rifle. Eu vi isso numa revista de gravuras... e eu achei aquilo bacana. Aquelas palavras árabes que falo na letra eu pedi que traduzissem. É um dialeto muçulmano: "Deus faça com que meus inimigos tenham os olhos mas não me vejam e me ajude a ser feliz para que os meus possam ser também". Para tocar "Tuaregue" tem de desafinar duas cordas. Tem aquele som árabe... cítara, ou alaúde... um troço assim. Então no violão dá para fazer. Vi lá no dedo como é que dava as frases, então deu para fazer: dem dem on dem dem on dem dem. Dá direitinho, conhecia esse som por filmes.
Jorge fala depois de seus sons coloridos e das musas, que não são Teresa, mas estas "só de se ver, só, entendeu, de se ver passar..."
Antes de eu fazer a letra, quando eu acho uma harmonia diferente, ou uma música que eu tenho em mente, eu começo a tocar e aí eu vou sentir as letras. A harmonia muitas vezes tem um som de rosa, de flores. Eu sempre acho que tem uma hora que tem de botar uma rosa, uma flor. Tem uma hora que a harmonia fala em amor. Um simples toque do dedo no violão, de mudança, a gente sente. Às vezes eu sinto... um simples toque de mão e aqui deve entrar a palavra amor, por esse som bonitinho, esse tom que saiu, esse som é uma rosa, esse som é uma mulher. O som rosa para mim sai sempre em menor, acorde sempre menor. Um si menor, por exemplo, dependendo do si, ou lá menor... lá menor é uma mulher para mim. É uma nota sempre baixa e sai bacaaana, um troço lindo, é suave, sai até perfumado o som.
Eu acho chuva muito poético. Eu acho a chuva bacana à bessa. Porque as minhas chuvas são chuvas todas de alegria. A chuva nas minhas músicas é o momento do amor. Em "Chove Chuva" é uma roisa que eu quero que chova pra molhar pra mim poder fazer uma prece, entendeu? Eu quero que chova, isso aí é muito difícil de explicar. A maioria de minhas musas são musas de eu ver, só, entendeu? Tem musa de eu ver passar. "Carolina Carol" foi assim. Começamos a música, eu falei assim pro Toquinho "Toquinho, tou por dentro, tu lá na pior mesmo, lá gamado", então Carolina, eu falei, temos de fazer uma música para nossa musa aí. Carolina Carol bela. O negócio é o seguinte. A Carolina tava em casa, aí bateram, nós távamos lá e bateram, não sei quem era. Então saiu: "Foi numa tarde de domingo (que era uma tarde de domingo mesmo) que alguém perguntou por ela". Então nós fomos rabiscando, rabiscando. Pô, saiu essa música, e depois "Que Maravilha".
Para essas musas que ele chama do tipo "só de ver", Jorge compôs ainda "Bicho do Mato", para a violonista Rosinha de Valença, que viajou com ele e Sérgio Mendes pelos Estados Unidos em 1965. Para Veruschka, a famosa manequim, fez "Quase Colorida". Ela ouvira algumas músicas de Jorge Ben em Paris e quando veio ao Rio em 1965 pediu a um amigo do cantor, que era manequim da Vogue, para marcar um encontro com ele. Eles se encontraram na casa do manequim. Veruschka queria uma canção para desfilar. "Você é linda, quase colorida / você é o amor, o amor da minha vida." Por que linda e quase colorida?
Eu gosto muito de azul e rosa e verde e amarelo e rosa. Eu acho o rosa a cor do amor. Tem uma música que eu falo "Sai de mim mulher / pois eu não vou trair o meu amor que é puro e belo / é verde e amarelo e rosa / ela tem um verde de esperança, um amarelo de lealdade e um rosa de amor e bonança". O amarelo eu sinto que é lealdade. Não é por ser brasileiro que eu tou fazendo média, não. O verde, todo mundo sabe que é esperança, e o rosa é a cor do amor. A gente sempre dá rosas para uma mulher.
Para sua mãe, Jorge Lima Menezes também fez uma canção: "Sílvia (para Sílvia San Ben, descendente de etíopes) Lenheira": "Vai embora mas vai me amando". "Eu me lembrava dela carregando lenha na cabeça."
Minha mãe não trabalhava. Meu pai era estivador no cais do Rio. Sempre foi um cara muito trabalhador. Eu tenho orgulho de meu pai. Era estivador, tinha barraca no feira... de peixe... safava bem. A única coisa que ele sabia mais ou menos tocar era o pandeiro, só. E ele gostava de cantar, muito baile, sabe como é... pessoal da estiva... tem baile todo fim de semana... meu pai só gravava música pra carnaval... mas isso eu não me lembro direito... era garoto. Eu me lembro de uma música do meu pai, de carnaval... não sei que ano foi... Foi Gilberto Alves que gravou ... é dele e outro camarada... (da estiva também), sei que é: "Trabalho tanto..." (cantarola), é "Cada um com Seu Pecado". O outro compositor é Armando não sei do quê... não me lembro direito não. Meu pai acho que é de 1920... Minha mãe é de 1911 ... Minha mãe é da Etiópia, mas não sou parente de nobres nem príncipes. Isso é onda.
Jorge não foi além do ginásio. Gostava mesmo era de praia e de jogar bola. Da escola de padres ficou o hábito de ir à missa. Acha que deve ir todo domingo, na primeira, que é mais vazia. Se vai mais tarde, a igreja cheia, sente vergonha das pessoas, que ficam olhando para ele. Da infância vem o hábito de sonhar quase com os olhos abertos. "Eu Descobri que Sou um Anjo" nasceu de um sonho:
Eu tava lá em casa, no Rio, então eu sonhei que acordei e eu estava voando. Aí, naquele pensamento, eu saí assim olhando da janela e vi aquela minha rua assim uma pista. Aí eu fui até a rua, a minha rua assim vazia ainda e falei: "Pôxa, que bacana... " Como se fosse assim uma pista. Aí eu fui até a rua, olhei, assim, tudo vazio, saí correndo. Quando dei por mim já estava voando por entre estrelas, aí que eu descobri que era um anjo.
Eu chamo Charles de anjo 45 porque ele era um cara bom, muito sentimento. Eu acho que ele é um anjo porque ele tem aquêle pulso, um pulso forte, ele tem um coração bom, o coração bom pros caras que são bons e o pulso forte pros inimigos. Então eu acho que ele é um anjo, ele é um justiceiro.
O Charles é um amigo lá do Rio Comprido, da Tijuca, de infância. É um cara que por motivos diversos aos meus se meteu em bobagem. Bobagem, não sei, ele tava na dele... O Charles tinha mil coisas, tinha ponto de bicho, tinha boca de fumo, mas é um cara bacana, sensacionai, pô. Ele foi preso por causa de uma 45. Ele usava 45, depois é que ele foi preso, condenado. O nome dele é Charles Antônio Sodré, ele é filho de português, ele deve ter uns 28, 29 anos. Ele não tem crime nenhum.
Acho que já vai ser solto, ele era bom, mas não era cara de ninguém passar ele pra trás, não... Ele foi meu amigo desde garoto. Jogamos bola juntos. No meu bairro, quando eu era garoto, eu fui criado num bairro que era uma desgraça. Agora é lindo o Rio Comprido. Pô, eu saía do colégio, do lado tinha um salão de bilhar, que tinha apelido de faroeste. Saía do colégio, tinha bandido prá todo lado, trocando tiro, pá, pá, pó...
Charles é também quase uma figura dos sonhos de Jorge Ben, um personagem fantástico de suas histórias em quadrinhos. Jorge tem uma música para "Barbarella": "Quem me dera eu ser um intergalático para estar dormindo nas estrelas e só falando de amor com você".
Eu quase não leio. Prefiro história em quadrinho. Meus heróis favoritos? Tem uma porção deles. Meu herói favorito, no momento agora estou lendo muito, chama Thor. No Thor, por exemplo, eu acho sensacional um deus baixar aqui na terra e se apaixonar por uma terrestre e não poder casar, porque o pai dele, o deus supremo, Odin, o todo-poderoso deles, não consente que um deus se case com uma mortal. Então eu acho esta história bacana, e o estilo de vida que eles levam lá no céu deles, acho aquilo interessante. Como é que o cara consegue ter tanta idéia assim para bolar estas histórias? É um troço que prende a gente, e não é uma história boba, porque aquilo tudo é uma história assim meio científica. Você pode ver, tem foguetes, tem outros planetas, tem os inimigos deles, tem o homem absorvente, uns caras que... Ele luta contra os mais terríveis inimigos e sempre consegue vencer; ele, com a ajuda de um martelo que ele tem. Então acho isso bacana, pôxa, aquele guardião. Embora sendo de outro planeta, ele é o guardião da Terra, tá aqui protegendo a Terra contra todo e qualquer inimigo.
E por que não fazer canções de protesto?
Olha, às vezes eu penso, eu queria ser um super-homem, um inatingível, com muitos poderes. Aí eu ia acabar com muita sujeira que eu vejo aí. Mas se eu fosse um super-homem...

sábado, 23 de julho de 2011



NEWS ITEM

50 YEARS OF MOTOWN... WELL ALMOST!

MOTOWN
MOTOWNHitsville USAMOTOWN: 'Hitsville U.S.A'
Our own Sharon Davis thought you may enjoy this look back at Motown through the years care of Utube.
It has some excellent content and takes you back to those golden days when the music did ALL the talking. Motown 50 and Blues and Soul 42 years old- kinda makes you proud doesn't it. Enjoy the video... We did:)
WORDS LEE TYLER
From Jazz Funk & Fusion To Acid Jazz

JOIN THE B&S MAILING LIST

Blues and Soul on Twitter

FEATURED CLUB

The Good Foot: Every Friday @Madame JoJo'sThe Good Foot: Every Friday @Madame JoJo's

THE GOOD FOOT @MADAME JOJO'S (EVERY FRIDAY 10PM-3AM) SOHO, LONDON

Madame Jojo's presents one of the UK's most acclaimed DJ's, Snowboy, for a Friday night residency- 'The Good Foot' features original and authentic Sixties and Seventies Deep Funk, Soul, Rare Groove, Boogaloo, Mambo and R&B

FEATURED CLUB

CC Club 2CC Club 3

SINTILLATE @ CC CLUB (EVERY FRIDAY, 10PM-3.30AM) LONDON

It’s quite an achievement for a night to last five years in the volatile and competitive world of Central London clubbing. It’s even more impressive when it doesn’t sell out musically in order to achieve such a status.

Postagens populares

Postagens populares

PRECIOSIDADES